Aos 92 anos de idade, morreu neste sábado (8) dom Pedro Casaldáliga, o primeiro bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia e um dos maiores expoentes da Teologia da Libertação, em Mato Grosso.

Dom Pedro morreu por volta das 9h40, na cidade de Batatais, interior de São Paulo. Ele tinha problemas respiratórios, mas o teste para a covid-19 deu negativo. Além disso, também sofria do mal de Parkinson.

Nascido no dia 16 de fevereiro de 1928, na província de Barcelona, Espanha, ele chegou em Mato Grosso com 42 anos de idade, em 1970, para assumir a Prelazia de São Félix do Araguaia.

Por 35 anos, esteve à frente da Igreja Católica na região do Araguaia. Durante este período, ficou conhecido internacionalmente pela sua luta em favor dos povos indígenas, comunidades tradicionais, denúncia de trabalho análogo à escravidão, entre outras bandeiras.

Teologia da Libertação

Em meio a efervescência política nos anos 70 e 80, no Brasil e na América Latina, dom Pedro se transformou em um dos principais expoentes da Teologia da Libertação.

Neste período, a Igreja Católica também passava por diversas transformações que resultaram do Concílio Vaticano II (1962-1965), que promoveu uma intensa reforma litúrgica dentro na igreja e mais abertura aos fieis chamados leigos – que são batizados, mas não participam do clero.

Essa mudança de mentalidade abriu espaço para que religiosos como Dom Pedro Casaldáliga pudessem usar de sua notoriedade eclesial como ferramenta política.

Influência política

Essa perspectiva política ficou tão evidenciada dentro da TL que, nos anos 80, o movimento ajudou a criar o Partido dos Trabalhadores (PT).

Nos anos de 1990, a TL ainda possuía força em muitas comunidades espalhadas pelo Brasil, principalmente na região Norte do país. Era presente, principalmente, nas comunidades rurais, em meio aos indígenas, quilombos e na defesa de temas ligados à reforma agrária e distribuição de renda.

Ameaças

Em uma vida baseada em denúncias e na defesa de causas sociais, muitas vezes contrárias aos poderes políticos, dom Pedro viveu uma vida de ameaças.

A mais grave ocorreu em 2012, quando a judicialização em torno desintrusão das terras Xavante de Marãiwatsédé, criou uma verdadeira revolta popular entre os moradores da região, e dom Pedro precisou sair de São Felix do Araguaia.

O caso polêmico – que terminou com a retirada dos não indígenas da terra e a devolução da reserva para os Xavantes – começou nos anos 60 e terminou em 2014, quando foram destruídas as últimas casas de não indígenas que ocupavam a fazenda Suiá Missu, em Alto do Boa Vista (a 634 km de Cuiabá).

Dom Pedro esteve em meio a toda essa polêmica do lado dos indígenas e fazendo duras críticas públicas aos que ele chamava de “invasores” e também ao Poder Judiciário, que em suas decisões ficou dividido se garantia causa aos indígenas ou aos não-indígenas.