Quase 30 anos depois de deixar a Prefeitura de Barra de São Francisco para alçar voo numa carreira política em nível estadual – passando por secretaria de Estado, cinco mandatos de deputado estadual, suplente de senador e dez anos como conselheiro do Tribunal de Contas -, Enivaldo dos Anjos, aos 70 anos, está de volta à sua terra para, pela segunda vez, tentar ocupar a chefia do Executivo municipal.


O nome do deputado estadual foi homologado pela convenção do PSD, seu partido, na tarde desta quarta-feira (16), tendo como candidato a vice o republicano Gustavo Lacerda. São dez partidos a apoiar a chapa Enivaldo-Gustavo para disputar a Prefeitura: além de PSD e Republicanos, estão na coligação também PSDB, PTB, PMB, DEM, PSB, Podemos e MDB. De acordo com o, agora sim, candidato a prefeito, a coligação terá, aproximadamente 140 candidatos a vereador. 


Nesta quarta-feira, foram anunciadas mais duas adesões de peso à candidatura de Enivaldo dos Anjos: a do PSB, do governador Renato Casagrande, e a do Podemos, do atual prefeito Alencar Marim, eleito em 2016 pelo PT, com apoio decisivo de Enivaldo, de quem havia sido candidato a vice na chapa derrotada por cerca de 400 votos na eleição de 2012, quando dos Anjos era suplente de senador. 


“Esse apoio do prefeito Alencar chega em boa hora, porque demonstra como estamos bem acompanhados. O Alencar é uma pessoa séria e honesta, e isso, principalmente para um homem público, são virtudes a se reconhecer num momento político nacional em que o que mais se vê são exemplos de administradores que não respeitam o dinheiro público”, disse Enivaldo.


O deputado fez questão de agradecer também ao governador Renato Casagrande pelo apoio que tem dado ao seu mandato de deputado e, agora, por orientar o PSB a apoiar sua candidatura a prefeito, fazendo um agradecimento especial às duas principais lideranças socialistas municipais, Valmir Saar e o vereador Bofe. 


Em seu discurso aos convencionais, muitos deles presentes no escritório político de onde o evento era transmitido on-line por canais de redes sociais, Enivaldo enfatizou: “Se o povo de Barra de São Francisco nos confiar mais esta oportunidade de guiar os destinos do município, nosso compromisso será com a palavra empenhada, com a economia do dinheiro público, fazendo mais com menos, e de atenção aos menos desfavorecidos. As gestantes pobres e os idosos terão prioridade em nosso governo, assim como a participação das mulheres”. 


Além disso, Enivaldo dos Anjos fez um alerta: “Passadas as eleições, nossa missão será pacificar a cidade. Não existirão vencedores ou vencidos. Vou chamar todos a contribuírem para o bem de Barra de São Francisco”.


Quem se habilita a enfrentar Enivaldo dos Anjos nas urnas em Barra de São Francisco?


A polarização política surgida nos anos 80 entre dois velhos amigos de futebol nos tempos da juventude, Enivaldo dos Anjos e Edinho Pereira (e, depois, seu filho, Luciano Pereira), parece estar chegando ao fim em Barra de São Francisco, maior cidade da região Noroeste do Estado. 


Encerrado o período de realização de convenções para escolha de candidatos nas eleições municipais, que se realizará em 15 de novembro, Enivaldo, que se projetou como a maior liderança política da história de pouco mais de 70 anos do município, parece não ter mais adversários nas urnas.


A política competitiva na cidade parece ter minguado a um ponto de somente se ouvir o nome de Enivaldo dos Anjos. O candidato que prometia fazer-lhe frente, o sargento Roberto Firmino, homologado pelo Cidadania do deputado federal Da Vitória como candidato a prefeito, enrolou-se com as próprias pernas. 


Na véspera do dia da convenção que anunciou o apoio de 10 partidos a Enivaldo para prefeito, Roberto Firmino nem esperou o Ministério Público Eleitoral: utilizou-se das redes sociais para anunciar sua renúncia a uma candidatura que já nascia impugnada, depois que o Tribunal Superior Eleitoral negou provimento a um recurso especial do pré-candidato, mantendo a negativa do Tribunal Regional Eleitoral de fornecer certidão de quitação eleitoral para Firmino.

Gustavo Lacerda e Enivaldo dos Anjos


O outrora pré-candidato do Cidadania culpou os advogados do Solidariedade, seu partido em 2018, pelo problema que o tornou impossibilitado de concorrer este ano: a ausência da prestação de contas da campanha. E, para pior, o TSE o condenou a devolver R$ 33 mil de doações que recebeu dos deputados Jorge Silva e Da Vitória e do então senador Ricardo Ferraço. 


Edinho Pereira está com os direitos políticos cassados e seu filho, Luciano, que foi humilhado nas urnas nas eleições em 2016 pelo atual prefeito Alencar Marim, não conseguiu apoio para se candidatar em 2020. Seu partido, o Avante, não anunciou convenção e, ao tentar o apoio do PDT, os Pereira foram rechaçados e derrotados, segundo noticiado pela imprensa local: o partido preferiu ficar com a candidatura de Juvental Calixto Filho, do PP. 


Porém, o PDT recebeu em sua convenção, na terça-feira (15), uma visita para lá de incômoda: a do primeiro-suplente de deputado estadual na coligação em que está Enivaldo dos Anjos, o ex-prefeito de Linhares Luiz Durão, que fica com a vaga na Assembleia Legislativa, se o candidato do PSD se eleger em Barra de São Francisco. O vereador Juvenal, que não chega a ser aquela oposição que se espera para Enivaldo, corre o risco de ficar sozinho.


Para não dizer que não falei de flores, há uma terceira candidatura, sim, na cidade: a do militante histórico Mário Agapito, do PT, partido a que pertencia o atual prefeito, Alencar Marim, que no ano passado mudou para o Podemos. Ao perceber que Enivaldo estava falando sério em relação à candidatura, Alencar desistiu de concorrer à reeleição e, nesta quarta-feira, anunciou o apoio à candidatura do deputado, que o apoiou em 2016.


OU seja, enquanto os outros minguam, o filho de dona Samina e de Astrogildo Romão dos Anjos parece incansável aos 70 anos de idade e, a menos que haja um terremoto de 10 graus na Escala Richter em Barra de São Francisco, vai assumir de novo a prefeitura, depois de ter comandado o Executivo municipal há três décadas (1989-1992). 


Nesse intervalo, Enivaldo, que em 1988 deixou a Assembleia Legislativa (onde exercia seu primeiro mandato de deputado estadual) para ser prefeito, foi secretário de Estado (1992-94), cumpriu dois mandatos de deputado estadual (1995-2000), passou dez anos como conselheiro do Tribunal de Contas (2000-2010), elegeu-se suplente de senador em 2010 e, depois, elegeu-se deputado estadual em 2014 e 2018. Ah, sim: em 2012, depois de 20 anos na capital, tentou ser prefeito, mas perdeu para Luciano Pereira por cerca de 400 votos, sua única derrota para os Pereira.


Pelo jeito, a campanha “Fica, Enivaldo”, dos servidores da Assembleia, onde o deputado é presidente do Fórum dos Servidores, surtiu efeito contrário e fortaleceu ainda mais o nome do parlamentar para ser prefeito, com apoio de nove partidos, do PTB ao PSB de Renato Casagrande, passando pelo DEM de Rodrigo Maia e Theodorico Ferraço, PTB de Roberto Jefferson, PSDB, MDB, PMB, além do seu PSD e do Republicanos, de Erick Musso e Amaro Neto. E ainda não está descartada a adesão de outros. Do PDT de Vidigal, por exemplo.