Condenados a 65 anos de prisão por um dos crimes mais bárbaros da história do Distrito Federal, um casal de homens trans foi ameaçado de morte dentro do chamado “seguro” do Presídio Feminino do Distrito Federal (PFDF), a Colmeia. Em 31 de maio de 2019, o menino Rhuan Maycon da Silva Castro, de apenas 9 anos, foi esfaqueado, esquartejado e teve partes do corpo assadas em uma churrasqueira pela própria mãe, Rosana Auri da Silva Cândido, então com 27 anos, e pela companheira dela, Kacyla Priscyla Santiago Damasceno, 28. Agora, Rosana passou a ter o nome social de Agel e Kacyla é chamada de Alidi.

A repulsa pela brutalidade do assassinato fez com que o casal fosse jurado de morte por outras internas da Colmeia, todas autoras de crimes sexuais e considerados desprezíveis pela massa carcerária. As ameaças se intensificaram em 2022, e a direção da unidade prisional atendeu aos pedidos de Agel e Alidi, que temiam por suas vidas. Os dois viviam uma relação estável e ocupavam a mesma cela. Eles foram deslocados, então, para uma ala onde eram mantidos isolados em uma espécie de Regime Disciplinar Diferenciado (RDD)

Tomando banho de sol por meio de um solário disponível dentro da própria cela, sem direito tanto a televisão quanto a caminhar pelo pátio, o casal passou a relatar supostas práticas de tortura e transfobia cometidos entre 2019 e 2023 por 20 agentes penais lotados na Colmeia

Arrependimento

A coluna apurou que o casal de homens trans teria brigado e passou a ser insustentável a convivência em isolamento na mesma cela, ainda mais com tantas restrições. Ambos passaram a apresentar desiquilíbrio psicológico, mas queriam escolher a própria psicóloga e não a profissional oferecida pelo sistema.

O isolamento e a restrição a uma série de benefícios fez com que o casal desejasse ser transferido para um bloco comum junto com a massa carcerária, mesmo correndo risco de agressão e até morte por linchamento.

Em 19 de fevereiro deste ano, uma advogada envolvida com associações de direitos humanos protocolou uma petição na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) denunciando supostas práticas de tortura e transfobia contra o casal trans condenado pelo assassinato brutal de Rhuan.

Crime brutal

O laudo cadáverico que respaldou o inquérito e serviu de prova no julgamento é aterrorizante. O menino levou 12 facadas, sendo uma no peito enquanto dormia. Assustada, a vítima ainda se levantou e ficou ajoelhada ao lado da cama. Em seguida, levou mais 11 golpes desferidos pela própria mãe.

O exame apontou, ainda, que, quando a cabeça de Rhuan foi arrancada, os sinais vitais do menino ainda estavam presentes. Segundo a PCDF, enquanto a mãe começava a esquartejar o corpo, a companheira dela acendia a churrasqueira. Ela teria segurado o garoto durante o esfaqueamento.

Carne assada

A ideia do casal era assar as partes do corpo, fazendo com que a carne se desprendesse dos ossos. As criminosas chegaram a comprar um martelo com a intenção de triturar os ossos do menino.

A mãe retirou toda a pele do rosto da criança, que seria colocada na churrasqueira e jogada em um vaso sanitário. Para tornar o corpo ainda mais irreconhecível, a própria mãe também tentou retirar, com a faca, os globos oculares de Rhuan.

Após tentar assar tórax, cabeça, pernas e braços, as mulheres – hoje hoje homens trans – desistiram ao perceberem que a carne não desprendia dos ossos como elas esperavam. Resolveram, então, dividir as partes do corpo em duas mochilas infantis. Uma delas foi jogada em um bueiro da Quadra 425 de Samambaia.