Desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a dívida bruta do setor público brasileiro teve um aumento alarmante, superando a marca de R$ 1,1 trilhão. Apesar desse cenário, o presidente demonstra uma notável resistência a discutir o tema. Nos três primeiros meses de 2024, a dívida já avançou R$ 268 bilhões, alcançando impressionantes R$ 8,347 trilhões em março, o equivalente a 75,7% do Produto Interno Bruto (PIB), conforme dados do Banco Central.

Este incremento de 1,3 ponto percentual apenas neste ano e de 4 pontos desde o início do mandato de Lula destaca um aumento contínuo que inclui também dívidas de estados e municípios, embora a maior parte recaia sobre a União.

O presidente Lula, por sua vez, mostra-se irritado com as críticas e comparações internacionais, destacando em uma recente entrevista que países como Estados Unidos, Japão e Itália possuem percentuais de dívida/PIB significativamente maiores. “Você tem que saber se está gastando ou está investindo”, defende Lula, menosprezando as preocupações com o déficit fiscal.

Entretanto, há fatores que diferenciam o Brasil dessas nações, como os elevados juros da dívida que aceleram seu crescimento. Além disso, enquanto outras grandes economias emitem moedas fortes como o dólar e o euro, o Brasil lida com o real, que se desvaloriza frente a essas moedas, impulsionando a inflação e os juros locais, afetando diretamente o cotidiano da população.

O aumento da dívida neste ano foi impulsionado principalmente pela incorporação de juros, que totalizaram R$ 213 bilhões em três meses, com destaque para os títulos indexados à taxa Selic. Em 2023, os juros já haviam adicionado outros R$ 816 bilhões à dívida pública.

As taxas de juros, administradas pelo Banco Central, refletem a inflação e as condições fiscais do governo. A alta Selic é uma resposta à necessidade de atrair investidores para financiar o déficit do país, que vem se acumulando desde 2014.

Em um contexto de dificuldades para implementar cortes de gastos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, concentra-se em aumentar a arrecadação. Contudo, propostas para reduzir despesas, como a desvinculação de benefícios do salário mínimo, proposta pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, encontram resistência dentro do próprio governo.

O artigo recomendado por Haddad, escrito pelo economista Bráulio Borges, sugere que para estabilizar a relação dívida/PIB seria necessário um superávit primário de 1% a 1,5% do PIB. No entanto, as metas fiscais foram postergadas, transferindo uma parte significativa do ajuste necessário para o próximo governo.

O compromisso atual do governo é alcançar um resultado primário nulo até 2025, mas, até agora, o saldo ainda está deficitário em quase R$ 250 bilhões. Mesmo removendo passivos herdados do governo anterior, o desafio de equilibrar as contas permanece uma tarefa árdua.

Essa relutância em debater questões econômicas essenciais sublinha uma abordagem governamental que pode precisar de revisão para enfrentar a realidade econômica do país de forma sustentável.