Uma tragédia deixa centenas de mortos embaixo dos escombros em uma cidade do interior. Um rapaz de passagem pelo local, perseguido pelo pai por causa da sua orientação sexual, aproveita a situação para desaparecer. Meses depois, liga para o namorado, diz que está vivo e o reencontra. Parece ser a sinopse de uma novela ou um filme. Mas é a história do catarinense Evandro Hamann Schwirkowsky, 23 anos.

 

Ele figurou na lista de desaparecidos da tragédia de Brumadinho (MG) até terça-feira, quando entrou em contato com a família para revelar que estava vivo. Evandro contou como acabou se envolvendo com a maior tragédia ambiental do país: o rompimento da barragem da mineradora Vale, que deixou mais de 230 mortos e 46 desaparecidos embaixo do mar de lama que invadiu a cidade mineira.

 

Evandro conta que no dia 20 de janeiro saiu de Salvador (BA) de bicicleta. Na estrada, pegou carona com caminhoneiros e chegou a Brumadinho cinco dias depois. "Foi uma passagem rápida. Falei com algumas pessoas. Estava em busca de emprego", conta. Saiu de lá apenas uma hora antes da tragédia.

 

No caminho de volta para Salvador, ficou sabendo do episódio. Foi quando tomou uma decisão: iria seguir entre os desaparecidos e fugir do que chama de ira do pai, que reprovava a sua orientação sexual. "Vi uma oportunidade. Sofria preconceito do meu pai, que não aceitava o fato de eu ser gay. Ele não sabia onde eu estava. Tinha medo de que ele pudesse vir atrás. Aí, fiquei escondido".

 

Em seguida, buscou refúgio na casa de amigos. Mas a decisão cobrou um preço alto: Evandro precisou manter o segredo até mesmo do namorado Edemilson de Jesus Silva. Ele só decidiu aparecer quando ficou sabendo que os parentes dos desaparecidos em Brumadinho receberiam indenização.

 

"Eu quero viver. Não vou me entregar para uma depressão", diz Evandro, que irá iniciar um tratamento para combater a doença na próxima semana. O momento mais difícil foi quando ligou para o namorado, na terça-feira. "Ele achou que era um trote. Conversamos, nos encontramos e informamos aos órgãos públicos, para que ninguém recebesse esse dinheiro".

 

Denúncia de agressão

 

O relacionamento entre Evandro e Edemilson começou há seis anos. Os dois moravam juntos em uma casa simples em Corupá, Santa Catarina. Ganhavam a vida vendendo bananas. Quando Edemilson viajou por uma semana, em dezembro do ano passado, os desentendimentos entre Evandro e a família se intensificaram.

 

"O meu pai me atacou com uma foice. No desespero, fugimos e começamos uma vida nova em Salvador", acusa. Agora, ao lado do namorado, Evandro pretende retomar a sua vida. O pai de Evandro não foi encontrado para falar sobre o assunto.