A queda da atividade econômica global, em virtude da crise do coronavírus, fará com que o mundo atinja a meta de redução das emissões de gases do efeito estufa estipulada para este ano pelo Acordo de Paris. A estimativa é de que o volume de carbono jogado na atmosfera caia 6%, globalmente. O Brasil, no entanto, poderá ir na contramão dessa tendência. 

 

 

 

 

 

Uma análise feita pelo Observatório do Clima aponta para um aumento de até 20% das emissões brasileiras, em 2020. O motivo é o crescimento do desmatamento no País, que atingiu patamares recordes nos últimos meses. De acordo com nota técnica emitida pelo Sistema de Estimativas de Emissões de Gases do Efeito Estufa (Seeg), a destruição das florestas, especialmente na Amazônia, deve compensar a queda esperada nas emissões do setor de energia e da atividade industrial. 

As emissões decorrentes do desmatamento devem aumentar 29% este ano, em comparação a 2018. Na Amazônia, a estimativa é de que sejam destruídos 14,5 mil quilômetros quadrados de floresta, área equivalente a quase 10 vezes a da cidade de São Paulo, a maior do País. Com isso, as emissões amazônicas aumentarão mais de 50%. 

 

 

 

 

O gás metano emitido pelo rebanho bovino é outro problema. Em média, a pecuária responde, sozinha, por um quinto das emissões brasileiras. Por conta da crise, houve uma redução no consumo de carne e, consequentemente, dos abates, que caíram 20%. Com mais bois no pasto, o volume de metano deve aumentar. 

 

Em 2018, o Brasil emitiu 1,9 bilhão de toneladas brutas de CO? equivalente. As mudanças de uso da terra, categoria em que se encaixa o desmatamento, respondem pela maior parte: 44%. A agropecuária (25%) e o setor de energia (21%) vêm sem seguida. “A aceleração do desmatamento e das emissões decorre diretamente das ações do governo de desmontar os planos de controle”, afirma Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “O Brasil se tornou uma ameaça ao Acordo de Paris“.