Tornou-se um elefante em sala de cristais a pré-candidatura de Tyago Hoffman a deputado estadual. A movimentação do atual secretário a Ciência, Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento está causando estremecimento na base do governo na Assembleia Legislativa e incomoda o núcleo do PSB no Palácio Anchieta, gravitando em torno do secretário Davi Diniz, da Casa Civil.


Os problemas começaram a aparecer por causa da volúpia de Hoffman em tudo o que faz. Ele começou a circular e a cooptar bases políticas de atuais deputados, sem respeitar nem mesmo aqueles que são do partido do governador. Fontes ouvidas pela Folha dão conta de que a conversa é: dinheiro não vai ser problema. 

Goela Grande


O mais descontente é o líder do governo na Assembleia, deputado Dary Pagung, um político acostumado a se eleger com “votos contados” e que vê sua reeleição ameaçada pela goela grande de Tyago Hoffman. Dificilmente, Dary vai continuar no PSB, que deve ver a debandada de outros deputados, uma vez que nas próximas eleições não existirão mais coligações e as chapas serão puro sangue.


O vice-presidente da Assembleia, deputado Marcelo Santos (Podemos), é outro que está “cuspindo marimbondos”, depois de receber informações de aliados de que Tiago fez incursões sobre eles com “muitas promessas”. 


Até mesmo Janete de Sá estaria revendo os planos de deixar o PMN, que comanda há mais de duas décadas para ingressar no PSB. Tanto Dary quanto Janete fizeram carreira de sucessivos mandatos liderando partidos de pequeno porte, por meio de coligações que lhes eram vantajosas. 


A grande dúvida do mercado: o campeão de votos de 2018, deputado Sérgio Majeski, fica ou sai do PSB. Há apostas tanto numa quanto em outra hipótese, até porque Majeski é considerado o único deputado do atual parlamento capaz de, praticamente, garantir sua própria eleição, dado ao seu crescimento político. 


Eleito com modestos 12.007 votos em 2014 pelo PSDB com o apoio de seus alunos de Geografia, Majeski voou no primeiro mandato, migrou para o PSB e quadriplicou sua votação, reelegendo-se como o mais votado dos 30 deputados, com 47.015 votos.

O professor é do partido do governo, mas mantém postura independente, inclusive fugindo de arranjos com outros deputados em plenário. Alguns analistas preveem que Majeski, se candidato à reeleição em 2022, pode sair das urnas com mais de 60 mil votos, o que o elegeria em qualquer legenda. 


Assim, o deputado professor é, ao mesmo tempo, a noiva mais desejada e a mais desprezada na política capixaba. Desejada pela sua capacidade de voto, desprezada pela sua notória independência em relação aos arranjos políticos institucionais. 


A movimentação de Tyago Hoffman, cujo nome anda envolvido em movimentações obscuras envolvendo licitações no Estado, causa arranhões não apenas na base na Assembleia ou no núcleo socialista do Palácio Anchieta, mas também na Câmara Federal. 


Para “tirar do caminho” Gedson Merízio, o secretário se movimenta para que o ex-subsecretário de Turismo saia candidato a deputado federal e não a estadual, e já andou, inclusive, de namoro com bases políticas de Gedson em Guarapari e litoral Sul. Mas aí quem gritou foi o deputado federal Ted Conti, que tem base em Guarapari e se sentiria prejudicado com essa movimentação, dividindo o reduto com Gedson para beneficiar Tyago. 


Alguém pode se perguntar: e o governador Renato Casagrande, o que pensa disso? Não se pronuncia, embora seja o grande líder do PSB no Estado, com proeminência também na executiva nacional. Fontes palacianas dão conta de que o governador já está incomodado com Tyago faz um bom tempo e sua remoção da Secretaria de Governo para a de Ciência e Desenvolvimento teria o objetivo de distanciá-lo do Palácio Anchieta. 


Há um porém: para “compensar” seu deslocamento, Tyago ganhou de presente o setor de petróleo e gás do Estado, onde jorra dinheiro, além de ter interlocução com o setor produtivo. 


Se incomoda o Palácio, Tyago não pode também ser desprezado. Há quem diga que a sua longa convivência com o governador o teria tornado dono de informações estratégicas que impediriam qualquer movimentação que pudessem prejudicar suas intenções políticas. Ou seja, com Tyago Hoffman, se ficar o bicho come, se correr o bicho pega.