O falso advogado Ruy Rodrigues Santos Filho tem uma extensa lista de vítimas pelo Distrito Federal. Presidente do Banco Agro, ele é acusado de criar a instituição financeira para enganar e levar milhões de pessoas que acreditavam estar fazendo bons negócios. O banco tem sede na Asa Sul e três filiais espalhadas pelo país; e teve a última alteração no CNPJ em 2021.

No entanto, Ruy já tinha processos e investigações por estelionato muito antes disso e por meio de outras empresas que também teriam aplicado golpes. Com promessas de retorno financeiro em investimentos, clientes confiaram carros, casas, fazendas para que a instituição retornasse em lucro, mas se viram afundadas em dívidas. De lábia afiada, Ruy arrancou dinheiro de empresários, fazendeiros, servidores públicos e fez até um secretário de Estado do Governo do Distrito Federal gravar um vídeo parabenizando as iniciativas do banco.

As falcatruas do instituição financeira vieram à tona após reportagem do Uol sobre o assunto, revelando o modus operandi do suposto estelionatário. No DF, Ruy é alvo em, ao menos, 13 processos, inclusive decorrentes de inquéritos da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) por estelionato. Ruy se apresentou às vítimas como advogado, no entanto, ele não tem cadastro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), e é investigado por exercício ilegal da profissão.

Uma ordem de despejo foi emitida contra ele na quinta-feira (25/4), após a falta de pagamento de R$ 60.782,60, referente a aluguéis vencidos, às taxas de condomínio, do IPTU e até pela multa penal contratual. Segundo o processo, o banco não arca com os compromissos desde fevereiro de 2023.

Imagem de Inquérito com indiciamento de Ruy Rodrigues

Inquérito aponta Ruy como indiciado Material cedido ao Metrópoles

Foto colorida do falso banco agro aberto na Bahia - Metrópoles

Banco agro Reprodução

Foto colorida de homem branco de terno

Ruy Rodrigues é acusado por vítimas de ter aplicado golpes Reprodução

Imagem de cheque

Cheque dado por uma das empresas de Ruy não tinha fundos Material cedido ao Metrópoles

Imagem de Inquérito com indiciamento de Ruy Rodrigues

Inquérito aponta Ruy como indiciado Material cedido ao Metrópoles

Foto colorida do falso banco agro aberto na Bahia - Metrópoles

Também nessa semana, em 21 de abril, a empresa foi condenada a devolver R$ 1 milhão a dois fazendeiros que haviam celebrado contrato de licença de uso de marca, tecnologia e modelo de negócio do Banco Agro. No entanto, eles alegam que foram vítimas e que, desde o primeiro dia de funcionamento da agência, tiveram problemas, uma vez que clientes não conseguiam fazer a abertura de suas contas ou realizar transações.

Os fazendeiros teriam conseguido juntar cerca de 200 clientes e o contrato previa um investimento de R$ 4 milhões, mas as três parcelas restantes, no valor de R$ 1 milhão cada foram suspensas com a sentença proferida neste mês, que anulou o contrato. Os fazendeiros chegaram a chamar o banco de pirâmide financeira, termo que foi rebatido pela defesa de Ruy Rodrigues e do Banco Agro.

No portal Transparência BR, Ruy Rodrigues Santos Filho aparece como sócio em seis empresas com CNPJ diferentes, todos ativos no Distrito Federal. São elas: Mendes Santos Associados, Tozzini e Rodrigues Associados, Agro Nutri Commodities LTDA , Bela Vista Agrícola Companhia Brasileira de Commodities LTDA e Fiagro Fundo de Investimento Agrícola LTDA.

O Metrópoles entrou em contato com todas essas empresas pelo e-mail que consta no CNPJ, questionando sobre a participação de Ruy, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.

Mandados de Prisão

Em fevereiro deste ano, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) concedeu um mandado de liberdade provisória a Ruy Rodrigues, que estava aberto desde janeiro do mesmo ano. Conforme consta em sentença pela liberdade, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) havia se manifestado contrário à concessão de liberdade.

Nesse processo, Ruy é acusado de ludibriar uma vítima, se apresentando como advogado e oferecendo condições para negociar uma dívida imobiliária com a Caixa Econômica. A vítima deu a Ruy a quantia de R$ 179 mil, para que fizesse os pagamentos, que nunca ocorreram. A vítima perdeu o imóvel no Gama.

Esse não foi o primeiro mandado de prisão expedido contra Ruy. De acordo com os antecedentes criminais levantados pela Polícia Civil do DF, que a reportagem teve acesso. Em 2022, Ruy teve um mandado de prisão temporária expedido pela 3ª Vara Criminal de Taguatinga. No entanto, 15 dias depois, também foi concedido o relaxamento do mandado.

Na mesma linha, Ruy agiu contra uma outra vítima. Dessa vez, o golpe era contra um mecânico que estaria adquirindo um apartamento de 60 metros quadrados em Águas Claras, avaliado em R$ 350 mil, em 2020. Ele teria negociado e repassado R$ 290 mil ao antigo proprietário do imóvel. No entanto, ficou de negociar o restante da dívida com duas empresas de Ruy, que supostamente estaria envolvida na construção do imóvel.

A vítima efetuou o Pix no valor, mas nunca recebeu a escritura. Em tratativas, a empresa de Ruy teria apontado que ainda havia dívidas pendentes e a vítima chegou a desembolsar mais R$ 22 mil.

Após dois anos de intenso desgaste, a vítima propôs um acordo para que Ruy então comprasse o apartamento pelo valor de mercado. Segundo o documento da investigação da PCDF, teria ficado acordado o pagamento de R$ 426 mil, dividido em dois cheques. Quando a vítima foi resgatar, não havia fundos.

“Tortura psicológica”

A servidora pública Ana Moura sofre com o golpe aplicado por Ruy desde 2009 e contou que desde então passa por “torturas psicológicas”. Ela estava em um processo de divórcio quando foi apresentada ao Ruy por uma pessoa de confiança.

Ruy teria proposto para ela trocar o carro, um Gol 1.6, que tinha por um carro zero, usando o veículo anterior como fundo para seguir com o carro. “Eu imaginei podendo dar a volta por cima naquele término traumático e acreditei”. Ela detalhou também que Ruy aparentava uma excelente condição financeira.

“Era só relógio Rolex, tinha Porsche, o escritório era enorme em uma área de luxo. Nunca imaginei que fosse golpista”. Ela vendeu o carro e passou o dinheiro para o Ruy que teria dado entrada em um Punto, com o dinheiro e ela deveria continuar as prestações.