Muito antes do caranguejo que impediu avião de pousar no Aeroporto de Vitória na noite da última segunda-feira (20), outros animais como capivaras, jacarés e até cobras também já invadiram a pista destinada aos aviões. Para que esse tipo de situação não termine em acidente, o terminal conta com uma força-tarefa para lidar com esses animais.

Apesar de parecer um motivo muito pequeno para arremeter uma aeronave, um caranguejo ou até mesmo um parafuso representa risco para aviões. Segundo informações divulgadas pelo Folha Vitória, vistorias diárias são realizadas na pista, para evitar que qualquer elemento se torne um perigo.

“O procedimento é normal. Toda vez que há um corpo estranho na pista, isso é reportado e chamamos uma vistoria para ver o que é. Pode ser um parafuso, um pássaro, um cachorro, uma cobra, uma capivara. É um procedimento normal de segurança”, tranquilizou a equipe.

Segundo apurado, poderia ser que o único caranguejo não levasse a qualquer desastre. “Mas imagina um avião com 150 pessoas passar ali e o animal ser sugado pela turbina, pegar fogo e explodir. O que foi diferenciado dessa vez foi o fato de ter sido gravado um vídeo com o piloto exagerando a cena de brincadeira, o que fez a situação viralizar. Mas é um procedimento normal e em caso de dúvida não arriscamos”, completou.

“Há também o pessoal de manejo de fauna, que entra e circula o tempo todo para verificar se há presença de animais, entre eles capivara, jacaré e cobras. A frequência de entrada desses animais tem diminuído bastante por conta do trabalho preventivo”.

A Zurich Airport, empresa que opera o aeroporto de Vitória, informou que existe uma equipe de fauna 24 horas por dia, que atua nesse tipo de ocorrência, de evitar entrada de animais na pista.

Vistorias diárias
Durante o dia, em diversos momentos, há vistorias programadas, rondando a pista inteira. Segundo a equipe de controladoria, isso é feito para verificar se há buraco, ave morta ou até mesmo lâmpada queimada. O procedimento ocorre cerca de cinco vezes ao dia, inclusive na madrugada.

Falcão treinado para afastar aves
Além dos serviços rotineiros, há o que é chamado de “falcoaria”, com um falcão treinado para afastar outras aves que estejam rodeando o entorno do aeroporto.

“O falcão é uma ave de rapina treinada e, quando há um bando de pássaros, ele é solto. Por ser do topo da cadeia alimentar, as outras aves fogem e o falcão volta ao treinador”, foi explicado.

A existência de pássaros sobrevoando as imediações da pista é o suficiente para interromper pouso ou decolagem. “Enquanto não forem retirados, a aeronave não pousa. Apesar de tudo o que é feito, a chance de dar algum problema existe sempre. Pode ser que, logo depois da vistoria, uma cobra invada a pista, a turbina puxe e dê algum problema. Não existe risco zero. Todas essas ações ocorrem para reduzir o nível de risco ao aceitável”, foi acrescentado.

“É muito mais seguro que se interrompa a aproximação do avião do que a aeronave venha para pouso sem saber se era mesmo um caranguejo ou não”.

Segundo a própria Zurich, o programa com o falcão é um dos muitos instrumentos preventivos do aeroporto para evitar a presença de animais na área de pátio.

Caranguejo na pista
Na noite da última segunda-feira (20), um caranguejo impediu o pouso de um avião no Aeroporto de Vitória. A pergunta que muitos se fizeram foi a seguinte: O que fez caranguejo ir parar na pista do Aeroporto de Vitória?

O biólogo e mestrando em biologia animal pela Universidade Federal do Espírito Santo, Daniel Gosser Motta, explicou ao Folha Vitória que o caranguejo visto na pista do aeroporto da Capital capixaba é um Cardisoma guanhumi, popularmente conhecido como “guaiamum”.

“Os guaiamuns são comuns nos estuários e regiões próximas ao mar, e podem ser encontrados no litoral brasileiro, principalmente nas regiões Nordeste e Sudeste. Diferente do caranguejo-uçá, eles preferem regiões mais secas, entre o mangue e a mata, situação encontrada no Aeroporto de Vitória”, detalhou.

Daniel explicou que, assim como os demais caranguejos, os guaiamuns são ligados aos padrões climáticos das estações e à fase lunar. Ele acredita que, por estarmos em lua nova, provavelmente o isso fez com que o caranguejo caminhasse e parasse na pista do aeroporto.

“O risco de extinção do guaiamum se tornou algo tão sério que, nos últimos anos, foram lançadas duas portarias pelo Ministério do Meio Ambiente (a 445/2014 e a 395/2016) que visavam proibir a captura, o transporte, o armazenamento, a guarda, o manejo, o beneficiamento e a comercialização desse crustáceo. Essa decisão passou a valer a partir de maio de 2018, e vale para todo o território nacional”, completa.

A comercialização do crustáceo, como destaca o biólogo, está proibida nos dias de hoje e quem for pego em fragrante pode pagar uma multa de R$ 5 mil por unidade.