As cavidades nasais estão se tornando um caminho viável para acessar diferentes regiões do cérebro e facilitar operações que antes exigiam grandes aberturas no crânio.  

A cirurgia endoscópica - já há alguns anos usada para operar tumores na glândula hipófise- tornou-se uma aposta para tratamentos em outras áreas do cérebro à medida que a técnica é aperfeiçoada. 

Atualmente, essas cirurgias já são possíveis e são realizadas aqui mesmo, em Linhares, no Hospital Rio Doce, pelo Serviço Único de Saúde (SUS). A cirurgia é avaliada em R$ 100 mil.

A inovação se transformou em realidade há uma semana para o primeiro paciente do norte do Espírito foi submetido a retirada de um tumor no cérebro pelo nariz no hospital de Linhares. 

Os médicos responsáveis pela cirurgia foram Pedro Nunes Boechat (neurocirurgião e coordenador do serviço de neurocirurgia do Hospital Rio Doce), Ângelo Guarconi Netto (neurocirurgião - especialista em coluna), Leandro Ribeiro Chiarelli (otorrinolaringologista) e Carlos Eugênio Monteiro de Barros (neurocirurgião). 

"Hoje temos novos conhecimentos da técnica, que têm permitido fazer a cirurgia de forma expandida na base do crânio [parte que separa o cérebro dos seis da face e do nariz].  Podemos, por exemplo, tratar tumores em localizações profundas, como na hipófise e seios cavernosos, que seriam de difícil acesso pela técnica convencional ", afirma Pedro Boechat.


Técnica operatória


A operação é feita com o auxílio do endoscópio introduzido pelo nariz, que permite ao médico acompanhar tudo numa tela.

 Outros instrumentos também penetram pela via respiratória. É feita uma pequena perfuração no crânio, e o tumor, retirado. 

A principal mudança na cirurgia foi na etapa final: o fechamento do crânio. Em vez de usar pedaços de mucosa do nariz ou de músculos da perna -tecidos que tendiam a morrer com o tempo-, os médicos passaram a usar um retalho do septo nasal sem desgrudá-lo totalmente, permitindo que ele continue irrigado por vasos sangüíneos e vivo, portanto. 

"Hoje tratamos tumores próximos ao nervo óptico e à carótida [artéria que irriga o cérebro]. A nova técnica trouxe mais segurança para o fechamento da base do crânio, diminuindo o risco de expor o cérebro ao contato com a via respiratória, onde há bactérias. Diminuiu então o risco de complicações como a meningite e a drenagem de líquido cerebral pelo nariz", afirma o otorrinolaringologista Leandro Ribeiro Chiarelli.

Neuronavegação

Pedro Boechat, diz que, além da nova forma de fechar o crânio, outro avanço que facilitou a cirurgia endoscópica foi a possibilidade da neuronavegação. O computador localiza os instrumentos na tela e dá uma imagem mais global que a proporcionada pelo endoscópio. 

O médico lembra que a cirurgia endoscópica "não veio para ser a solução de todos os problemas" e que não pode ser usada em todos os casos. De acordo com ele, ela é útil basicamente para a parte do cérebro que faz fronteira com as vias respiratória, mas não é a melhor opção caso o tumor esteja em outras regiões. 

Para Pedro, há diversas vantagens no uso dessa cirurgia, e uma delas é a estética.  "Não ter que abrir o crânio evita que o paciente fique com uma cicatriz na cabeça. Já a recuperação no pós-operatório não tem uma grande diferença da cirurgia tradicional", diz. 

Ele pontua que outra vantagem da inovação cirúrgica é a retirada de tumores altamente complexos com menor taxa de complicações para o paciente. "O paciente já sai da sala extubado, conversando, tem menor tempo de pós-operatório e menos complicações na internação e na cirurgia”, sublinha.