O ex-ministro Sergio Moro apresentou à Polícia Federal, durante as oito horas de depoimento que prestou na sede da corporação em Curitiba (PR), no sábado, novos indícios sobre a denúncia de que o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), tentou interferir na PF. Moro cita, ainda, três ministros de governo e, afirma que todos podem confirmar supostas práticas ilícitas do chefe do Executivo. As informações foram publicadas pelo jornal O Globo.

Moro indicou pelo menos sete provas contra o mandatário, entre elas os nomes de Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), ministros de Bolsonaro ligados a ala militar. Há, também, segundo o ex-ministro, documentos comprobatórios que devem ser obtidos durante investigação.

O principal elemento contra o mandatário é o celular de Moro, entregue aos agentes federais para cópia das conversas com o presidente e com a deputada Carla Zambelli (PSL-SP). O conteúdo se restringe aos últimos 15 dias, pois Moro costumava apagar os textos com medo de um novo ataque de hackers.

A análise preliminar da polícia observou que o material não é relevante ao inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) e descartou os diálogos. Porém, a PF confirmou a conversa em que Bolsonaro se diz preocupado com as investigações sobre fake news, que poderiam atingir entre dez e doze deputados da base governista.

Na conversa, revelada pelo Jornal Nacional, Bolsonaro diz que este era “mais um motivo para troca”, revelando a intenção de demitir o ex-diretor geral da PF Maurício Valeixo, assunto pivô do desentendimento entre Moro e o presidente.

Os diálogos levantam a suspeita de que havia interesse por parte do mandatário em mudar o comando da Superintendência de Pernambuco.

Outra prova é a citação de um vídeo, feito durante reunião ministerial em 22 de abril, no qual Bolsonaro fala em trocar o comando da PF no Rio de Janeiro e ameaçou demitir Moro caso ele descordasse com a ação. Ainda, o ex-ministro usou o histórico das falas públicas de Bolsonaro indicando a intenção de fazer a mudança no Rio, além do pronunciamento pós-denúncia do presidente, em que admitiu a vontade das trocas.

Por fim, Moro indicou a existência documentos na PF e na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que comprovam as decisões estratégicas do presidente, indo contra ao depoimento de Bolsonaro, que nega ter acesso às informações sigilosas.