O Grupo Pão de Açúcar afastou provisoriamente um funcionário acusado de agredir com socos a cabeça de um garoto negro, de aproximadamente 10 anos de idade, na noite de terça-feira (2), do lado de fora do supermercado na Zona Oeste de São Paulo.

A empresa ainda informou por meio de nota que "não tolera qualquer ato de violência ou desrespeito" (leia abaixo a íntegra do comunicado).

O menino, segundo os funcionários, furtou um pacote de fraldas do estabelecimento comercial, que fica na esquina das ruas Mourato Coelho com Teodoro Sampaio, em Pinheiros, bairro nobre da capital.

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP), a Polícia Civil informou na quarta-feira (3) que investiga o caso como ato infracional e furto, mas também irá apurar a denúncia de agressão que teria sido cometida pelo colaborador contra o garoto. O homem seria vigilante do mercado.

O caso ganhou repercussão depois que algumas pessoas que passavam pelo local presenciaram a agressão e postaram comentários nas redes sociais.

Até a última atualização desta reportagem, investigadores do 14º Distrito Policial (DP), em Pinheiros, tentavam localizar o menino suspeito do furto, que fugiu. Investigadores só sabem o primeiro nome pelo qual ele é conhecido na região. Eles querem ouvir o depoimento do garoto para que ele possa apontar qual funcionário o agrediu. As fraldas também não foram recuperadas.

 

Equipes da delegacia foram ao supermercado em busca de câmeras de segurança na região que possam ter gravado a agressão. Testemunhas são procuradas para darem depoimentos do que viram. O funcionário afastado pelo Pão de Açúcar por suspeita de bater no menino deverá ser chamado para depor na delegacia e dar sua versão para o que aconteceu.

 

Testemunhas

 

Cartunista João Montanaro denunciou a agressão ao menino negro em suas redes sociais. Supermercado afastou o empregado e polícia investiga a agressão — Foto: Reprodução/Redes sociais
Cartunista João Montanaro denunciou a agressão ao menino negro em suas redes sociais. Supermercado afastou o empregado e polícia investiga a agressão — Foto: Reprodução/Redes sociais

Uma das pessoas que escreveram na internet sobre a agressão contra o garoto foi o cartunista João Montanaro, da Folha de S.Paulo. Ele denunciou o caso no seu Twitter:

 

“E agora, nem dez da noite, um funcionário/cliente do Pão de açúcar resolveu esmurrar no meio da Mourato Coelho um molequinho que furtou o mercado”, escreveu o artista, ainda na noite de terça.

 

“Eu vi o cara descer dois socos na cabeça do moleque. Se tivesse 11 anos era muito. Não tenho certeza se era funcionário ou cliente do mercado (estava com uma camiseta verde da cor do pão de açúcar)”, postou Montanaro.

A denúncia acabou compartilhada na web. Nas postagens, o cartunista chama a atenção pelo fato de o menino ser negro, sugerindo que a agressão possa ter sido causada por um racismo estrutural.

Segundo Montanaro, entregadores de comida por aplicativo também viram as agressões e intervieram para que o funcionário parasse.

 

 

“Não preciso falar a cor do garoto, né? Nem a dos entregadores que foram socorrer a criança”, comentou. “Quando têm oportunidade, esmurram a primeira criança negra que vêem [sic] na frente.”

 

Procurado pelo G1, o cartunista confirmou na quarta-feira (3) a postagem e falou que o agressor dizia que a criança havia furtado o mercado.

“Tinha um cara de camisa verde e careca segurando uma criança que tinha uma sacola cheia na mão”, disse Montanaro à reportagem. “Ele começa a dar socos na cabeça da criança. Ele falou que estava furtando no Pão de Açúcar.”

Cartunista João Montanaro denunciou a agressão ao menino negro em suas redes sociais. Supermercado afastou o empregado e polícia investiga a agressão — Foto: Reprodução/Redes sociais
Cartunista João Montanaro denunciou a agressão ao menino negro em suas redes sociais. Supermercado afastou o empregado e polícia investiga a agressão — Foto: Reprodução/Redes sociais

Polícia Militar

 

Por meio de nota, enviada ao G1, a assessoria de imprensa da Polícia Militar (PM) confirmou que policiais foram ao local depois de receberem um chamado para atender um caso no qual entregadores e funcionários, possivelmente do Pão de Açúcar, se desentenderam por causa do menino:

 

"No local, os policiais militares foram informados por pessoas ali presentes que motociclistas que trabalham com pedidos e entregas por meio de aplicativos não haviam concordado com o modo pelo qual um funcionário (segurança) de um estabelecimento comercial havia tratado uma pessoa jovem e, por tal motivo, teve uma discussão já resolvida entre as partes antes da chegada dos policiais militares.", informa trecho do comunicado da corporação.

 

 

Ainda de acordo com a PM, os policiais militares não foram informados pelas partes sobre qualquer "ocorrência de furto ou agressão a menores no local". Segundo a Polícia Militar, mesmo assim o atendimento feito foi registrado "no Sistema Operacional da Polícia Militar com as informações coletadas durante o atendimento e respectivas testemunhas."

 

Polícia Civil

 

14º DP, em Pinheiros, investiga denúncia de que funcionário de supermercado agrediu menino acusado de furtar fraldas  — Foto: Reprodução/TV Globo
14º DP, em Pinheiros, investiga denúncia de que funcionário de supermercado agrediu menino acusado de furtar fraldas — Foto: Reprodução/TV Globo

De acordo com o boletim de ocorrência (BO) do furto das fraldas, feito eletronicamente por funcionários do Pão de Açúcar, o menino cometeu o ato infracional por volta das 21h30 de terça, quando o supermercado estava prestes a fechar. O registro não informa a agressão cometida contra o garoto.

 

“O menino conhecido por nós [...], todas as vezes que ele entra no mercado, ele furta pacotes de fraldas. Já tivemos diversas ocorrências com esse menino. Já levamos na delegacia uma vez onde a delegada reteu [sic] todas as fraldas que eles tinham furtado”, informa trecho do registro policial do caso.

 

Ainda segundo o relato feito à polícia por um dos empregados, na noite de terça, “nosso vigilante nos confirmou que ele entrou sem pacote de fralda e [...] queria sair a todo custo com esse pacote de fraldas sem pagar.”

Segundo o BO, os funcionários então decidiram colocar vigilantes na saída para evitar que ele deixasse o local com as fraldas furtadas.

 

 

“Mas [...] fugiu da loja com o pacote de fraldas por outra saída da loja. Estamos sendo vítima [sic] diariamente desse menor que nos furta e nos ameaça todos os dias”, informa a ocorrência.

 

De acordo com o documento, além do garoto que fugiu com as fraldas, outros meninos também causam prejuízo ao supermercado.

“Quando esses meninos menores estão em turma, xingam nossos clientes e quebram vidro da loja, ameaçando a integridade físicas das pessoas, clientes que frequentam a loja e nós funcionários”.

 

Secretaria da Segurança

 

Questionada pelo G1 sobre o caso, a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública informou que o furto foi registrado por meio da Delegacia Eletrônica. E que o BO foi levado ao 14º DP, onde o caso é investigado.

 

“A denúncia de agressão contra o menor também é alvo de apuração da unidade. Mais detalhes não serão passados para preservar o trabalho policial”, informa trecho do comunicado.

 

Ainda por nota, a PM informou que "qualquer informação ou notícia de fato que possa caracterizar condutas ilícitas, especialmente àquelas que envolvam crianças e adolescentes ou pessoas em condição de vulnerabilidade podem ser informadas diretamente à Polícia Militar por meio dos diversos canais de comunicação disponíveis, em especial por meio do serviço de emergência 190, disponível 24 horas por dia e 7 dias por semana, a fim de que todas as providências legais cabíveis possam ser adotadas."

 

Pão de Açúcar

 

Também por meio de nota, a assessoria de imprensa do Grupo Pão de Açúcar informou que afastou temporariamente o funcionário que teria agredido o menino acusado de furtar as fraldas. E que apura o caso internamente:

 

“O Pão de Açúcar informa que, tão logo tomou conhecimento sobre o ocorrido na noite de ontem, acionou imediatamente a loja e as autoridades, e iniciou um processo interno de apuração. A rede repudia e não tolera qualquer ato de violência ou desrespeito, o que está explícito em suas políticas internas, código de ética e em treinamentos internos com todos os colaboradores e prestadores de serviço. Desta forma, a loja esclarece que o colaborador envolvido está afastado até que o processo de apuração seja finalizado e as providências necessárias possam ser tomadas.”